7.7.10

Um confederado no planeta vermelho 2

Noventa e três anos depois de publicado pela primeira vez nos EUA, o clássico da ficção científica Uma princesa de Marte chegou finalmente às livrarias brasileiras, como anunciei em um post anterior. É muito tempo de espera, certo? Mas pelo menos a editora Aleph foi mais rápida que os estúdios Disney e o título chegou antes ao papel no Brasil que à película dos cinemas, já que ainda está em fase de produção o filme que vai adaptar essa mesma obra, o primeiro romance da longa carreira de Edgar Rice Burroughs (1875-1950). Para quem gosta de literatura steampunk, o livro é uma excelente referência e fonte certa de influência, por contar a história de Jack Carter, um ex-soldado da Guerra Civil americana (1861-1865) de alguma forma transportado para Marte, onde vive um ciclo de aventuras em meio à impressionante tecnologia bélica daquele planeta e dos habitantes divididos em duas castas separadas pela cor de suas peles. A história é um ótimo exemplo de como um escritor de FC nascido no século XIX imaginava artefatos como máquinas voadoras, edifícios mecanizados, armas explosivas... Uma oportunidade para quem hoje pretende lançar um olhar de retrofuturismo para aquele período, proposta maior do subgênero steamer.



Da mesma forma que o Tarzan das selvas africanas, a criação mais famosa de Burroughs, Jack Carter de Barsoom - como o lugar é chamado pelos nativos -  é um representante autêntico da literatura pulp, com tudo aquilo que isso representa. Escrita em capítulos para a revista All-Story Magazine, a obra é um festival de ação sem freios. A cada final de episódio, o autor precisava deixar os leitores suficientemente interessados em sua trama para desejarem retomar a aventura na próxima edição. Então tome situações de perigo, cenas de lutas anunciadas, planos descobertos, fugas planejadas e frustradas a cada um dos 28 capítulos que compõem o romance. E nessa fórmula não há muito espaço para os meios tons: entre as raças coloridas de marcianos, o terráqueo vai do ódio mortal aos homenzarrões verdes ao amor à primeira vista por sua princesa vermelha praticamente sem escalas.

Escrito como se fosse as memórias do ex-soldado confederado a respeito da década que passou em Marte, o livro teria sido apenas organizado por Edgar Rice Burroughs, sobrinho do verdadeiro autor. O prefácio que Burroughs assina e uma das notas de rodapé presentes na edição brasileira (a outra é do tradutor, Ricardo Giasseti) aumentam essa sensação metalinguística. Temos então a narrativa em primeira pessoa em tom mais que urgente de Carter, descrevendo todos os apuros que viveu no planeta vizinho. Na maior parte do tempo, funciona bem essa estratégia; porém, em alguns casos, ela falha já que a pressa foi tamanha a ponto de atropelar o enredo. O pior caso é a velocidade e a falta de detalhes com que o sulista narra o breve período em que viveu em uma espécie de versão marciana das arenas romanas. Tudo ali se passa de modo tão rápido que o leitor mal começa a se ambientar e o trecho já acabou. A linguagem extremamente simples do romance também pode irritar quem desaprove construções como esta, da página 191, com cara de boletim de ocorrência (os itálicos são meus) : "Antes de me recolher para dormir, prometeu que me daria uma carta para um produtor de uma plantação próxima que me ajudaria a chegar a Zodanga, que, segundo disse, era a cidade marciana mais próxima".

Agora, quem busca pelo fluxo de ação vertiginoso e pelo exercício de imaginação mais poderoso que a força da estética, deverá se divertir bastante com Uma princesa de Marte. As explicações para o poder explosivo dos armamentos dos alienígenas esverdeados ou para o modo como a raça vermelha domou espectros desconhecidos por nós da luz para mover suas naves voadoras são um excelente achado para os fãs da pulp fiction. A edição da Aleph é bastante caprichada com uma capa muito boa (apesar de semelhante demais às de uma outra série publicada por ela, a dos livros vampirescos da brasileira Nazareth Fonseca). Mas é bem difícil de imaginar que a editora paulista consiga trazer ao Brasil o restante da saga criada por Burroughs: mais uma dezena de livros protagonizados por Jack Carter, a princesa Dejah Thoris e seus descendentes. Seria mais fácil isso acontecer caso houvesse se popularizado por aqui o padrão original daqueles livrinhos, de formato de bolso, papel amarelado, capas apelativas, com preço bem reduzido...

4 comentários:

bibs disse...

raaaah, preciso comprar esse livro!
poxa, tem que sair o restante, mesmo que por outra editora, eu não ligo hahahahahah
;P

Romeu Martins disse...

Eu queria uma coleção de Jack Carter de Marte em formato de bolso, com papel bem amarelado e com capas inspiradas no trabalho do Frank Frazetta e, de preferência, a dez real cada livro, hehehe ;-D

bibs disse...

uhauhaauaaahuahauahau
seria perfeito hein?! eu compraria em dobro, só pra guardar mesmo XDDDD

Romeu Martins disse...

Aliás, as ilustrações mais famosas da série são de um peruano, o Boris Vallejo, cujas artes já apareceram em capas de edições pulp, como essa

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