30.9.10

A grande corrida chega ao fim

Abrir o twitter hoje me deu uma má notícia ao me informar da morte de um dos grandes atores de todos os tempos, o americano Bernard Schwartz, aliás, Tony Curtis (1925-2010). Intérprete de inúmeros sucessos da metade do século XX, como Quanto mais quente melhor, ele também é uma citação obrigatória neste blog por um detalhe lembrado naquele mesmo site por Alexandre Lancaster. Tony Curtis foi o protagonista de um dos filmes steampunk mais influentes e bem sucedidos da história, A corrida do século (The great race), de 1965, dirigido por Blake Edwards.




Mais lembrado por ter sido a inspiração do desenho animado A corrida maluca, com seus carros retrofuturistas insanos, o que muita gente não sabe é que o filme foi baseado em um evento real, ocorrido em 1908. Relembro aqui uma matéria de Henrique Koifman, do blog Rebimboca, hospedado no portal de O Globo, como minha homenagem ao filme e ao ator que acabamos de perder.


Há quase exatos cem anos, na manhã gelada de 12 de fevereiro de 1908, em Nova Yorque, uma seleção de bólidos alinhou para a largada daquela que seria a maior corrida de automóveis de todos os tempos. Saindo da Ilha de Manhathan, os carros seguiriam rumo à Paris, indo pelo Oeste – ou seja, cruzando todos os EUA, parte do Alasca, norte da Ásia e quase toda a Europa –, percorrendo um total de 22 mil milhas (ou pouco mais de 35 mil km). Quase uma volta ao mundo, num tremendo feito para a época – e respeitável, ainda hoje. A competição deu origem a uma série de filmes – como o antológico “A Corrida do Século”, de 1965, com Tony Curtis. Falo, a seguir, resumidamente, sobre esse fantástico grande prêmio. Quem quiser saber mais detalhes, vá até o site do New York Times, que, aliás, foi patrocinador da tal prova e também a fonte de muito do que publico aqui. No mapa, o trajeto da corrida está em vermelho.

Continua

29.9.10

Convescotes pelo país 2

No final de agosto publiquei uma nota chamando de tendência os vários eventos vitorianos que se espalham pelo Brasil. Naquela ocasião, eu me referia três encontros marcados para Florianópolis, Curitiba e Rio de Janeiro. Pois no dia 30 de outubro, para confirmar a força dessa tendência, vai haver mais um, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Como podem ver na imagem e no texto abaixo, retirados do site SteamCon, este evento está sendo chamado de SteamNic. Que seja o primeiro de muitos.


No dia 30 de Outubro de 2010 no Parque Prefeito Dr. Luiz Roberto Jábali, às 14 horas, o Núcleo Ribeirão Preto da Loja São Paulo do Conselho SteamPunk vai promover o primeiro piquenique SteamPunk/Vitoriano.

Será o primeiro SteamNic do país um evento que tem a intenção de agregar Vitorianos, RomantiGoths, Classic Gothics, Lolitas, Elegant Gothic Lolitas e, é claro, Steamers, em um piquenique temático que vai juntar entusiastas do passado factual e passado ficcional.

No evento, além das guloseimas, os presentes vão dialogar sobre o Século XIX no Brasil e no mundo, discorrer acerca de seus gostos pelo tema, exibir e discutir seu figurino.

Não se espera que venham todos caracterizados, mas a organização incentiva que os entusiastas da Era Vitoriana e de SteamPunk, exercitem a imaginação e pesquisem acerca de roupas de época e do estilo ficcional que é tema do evento.

O evento é considerado, pela terminologia do Conselho SteamPunk como um SteamCamp e, portanto, um evento informal para reunir entusiastas do gênero e, no caso, convidando todos aqueles que apreciam piqueniques Vitorianos.

28.9.10

Exclusivo: Boneshaker vai sair no Brasil

Tenho o prazer de anunciar em primeira mão uma novidade daquelas: Boneshaker, romance steampunk premiado pela revista Locus vai ser publicado no Brasil pela Editora Underworld. O anúncio havia sido feito informalmente pela autora, Cherie Priest, em seu perfil no twitter. Ela escreveu no microblog:

In more good news - Editora Underworld has just picked up Brazilian translation/publication rights for BONESHAKER and DREADNOUGHT both!



Como não queria dar nenhuma barrigada com os leitores, confirmei a informação com a dona da editora, Fabiana Andrade, e ela não só me disse que sim, trará mesmo Boneshaker e sua sequência, Dreadnought, ao Brasil, como ainda me contou o nome do tradutor. Ninguém menos que Fábio Fernandes, meu colega de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário e da futura Steampunk Bible! Cherie Priest não poderia estar em melhores mãos.

Para comemorar, relembro um post em que comentei a resenha que Fábio Fernandes fez do livro:

Havia falado de Fábio Fernandes no último post, volto a falar agora. O motivo é a resenha que ele acaba de publicar, em inglês, sobre um livro que já foi mencionado por aqui duas vezes - a primeira e a segunda. Boneshaker, de Cherie Priest, um romance steampunk indicado ao maior prêmio da FC mundial, o Hugo - do qual aquele resenhista é um dos votantes. Destaco duas frases do texto de Fábio Fernandes. Primeiro uma que diz respeito ao gênero da obra: "Cherie Priest inventou uma história em sintonia com o Zeitgeist - e o zeitgeist é (ainda é e provavelmente continuará a ser durante algum tempo) steampunk". A segunda, sobre a obra em si: "Imagine Fuga de Nova Iorque. Em Seatle. No século XIX. Com zumbis".


É isso. Se alguma editora brasileira não publicar logo uma tradução do material, estão todas loucas. Leia a resenha completa aqui.

Fabiana Andrade e sua Underworld me provaram que nem todas estão loucas.

27.9.10

Retrofuturismo oriental 2

A última vez em que falei sobre um artigo do blog mais completo a respeito de quadrinhos e animações feitas no Japão que eu conheço foi no dia 23 de maio:

Uma ótima notícia para este dia é a volta às atividades do site Maximum Cosmo, após semanas de atraso em suas atualizações devido a uma série de problemas técnicos enfretados por seu proprietário, o jornalista, quadrinista e escritor Alexandre "Lancaster" Soaraes. Um dos contistas presentes na coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, com o texto "A música das esferas", noveleta mais pop do livro, ele também é um expert na cultura de massa nipônica, principalmente no que se trata na produção dos quadrinhos e das animações japonesas.

Para celebrar esse retorno, o blogueiro uniu essas duas pontas, e um dos artigos que ele produziu nas postagens deste domingo é justamente sobre como o steampunk se desenvolveu no Japão e passou a ser representado nessas mídias. Extenso, explicativo e muito bem pesquisado, "A revisitação neovitoriana made in Japan" é uma leitura mais que recomendada para quem gostaria de saber mais sobre como o gênero steamer é trabalhado em outras latitudes. Lancaster fornece uma lista e tanto de obras e de autores, juntamente com uma análise do porquê da popularidade deste tema no páis do sol nascente. Fiquem abaixo com a abertura do material, mas não deixem de ler a versão completa aqui:

Novamente, o Maximum Cosmo passou por um período de inatividade, mas desta vez por bons motivos. Lancaster tem se dedicado ao seu projeto de quadrinhos steampunk, Expresso!, que conta com um segundo blog. Para felicidade de quem gosta do material de origem - ou pelo menos de inspiração - nipônica, ele voltou a elaborar um de seus longos e completos artigos, e dentro da mesma série sobre cultura steamer comentada acima. Desta vez, o blogueiro analisou o mangá Steam Detectives de Kia Asamya. Destaco dois trechos abaixo, primeiramente sobre a comparação que ele faz entre dois campos da retrotecnologia - o steampunk e o dieselpunk - e em seguida uma apresentação da série em si:


 Quando abri a série de artigos sobre o gênero Steampunk (para os que estão chegando agora: a revisitação da ficção científica dos primórdios, de Jules Verne, H. G. Wells e muita gente boa), houve na seção de comentários muitas perguntas sobre um dos derivados do gênero – o Dieselpunk. Enquanto o Steampunk toma como base a ficção popular das eras Vitoriana e Edwardiana – o Dieselpunk tomaria como base os anos 20 e 30. Se um seria a Dime Novel, o outro seria a Pulp Magazine; o problema é que em termos de Japão essa definição não funciona.

Qual o problema de se falar em Steampunk e Dieselpunk sob esses termos na cultura pop japonesa? É que diferentemente do que acontece no ocidente, separar os dois é algo complicado. Isso acontece porque no hemisfério de cá do planeta, houve um evento que efetuou uma quebra clara e deixou tudo bem distinto: a Primeira Grande Guerra. Ela não foi apenas um conflito em que morreu muita gente – e que para falar a verdade, foi de certa forma mais traumático do que a própria Segunda Grande Guerra; esta mesmo foi um mero efeito colateral da guerra que veio antes. Ela foi um divisor de águas – tanto que muita gente considera que o Século XIX terminou em 1914 (e se olharmos bem o que o mundo foi entre 1870 e 1914 – a "Era dos Impérios", de acordo com Hobsbawn [sim, tenho o livro] – dou toda a razão a quem pensa assim).

Então há uma diferença clara entre a cultura que gerou a matriz do Steampunk e a cultura que gerou a matriz do Dieselpunk. Há um mundo de distância entre a cultura pop que gerou Sherlock Holmes e a que gerou Doc Savage (apesar deste também ter uma mente científica ao seu favor); entre o culto ao racionalismo e a desconfiança que se passou a ter com ele; o cientista que, de herói inventor, passou a ser vilão e ameaça para um troglodita musculoso (se pensarmos bem, Conan é a transposição desse espírito a um universo de fantasia); entre as Dime Novels e as Pulp Magazines… enfim, no ocidente, o dieselpunk e o steampunk remontam a dois conjuntos culturais que são bem  diferentes, cada um com seu ethos, tendo como ponto comum meramente seu aspecto nostálgico e sua costura temática envolvendo o passado e a retrotecnologia.

Quando falamos de Japão, no entanto, essa diferença não existe. E há um bom motivo para isso. (...)


A Era Atemporal
Steam DetectivesSteam Detectives é material de entretenimento puro, e ninguém deveria esperar mais do que isso da obra. Mas ele é curioso porque não apenas é lembrado como um dos exemplares mais bem acabados do gênero Steampunk nos mangás; não fosse o fato da onipresença do vapor em si, ele seria considerado facilmente Dieselpunk.

Ou talvez não. As moças usam mangas presunto como costumavam usar nas duas primeiras décadas do século vinte, a arquitetura da cidade remete a cidades como Praga, na República Tcheca (que é praticamente um monumento vivo a todas aquelas estéticas arquitetônicas e decorativas do século dezenove – e a silhueta de suas construções é inconfundível). É a década de 1910 de autores de mistério como Sax Rohmer (o criador do infame Dr. Fu Manchu, que foi criado em 1913), dos livros, mas com uma influência estética das décadas seguintes, com os sobretudos celebrizados pelos detetives dos anos quarenta (o que não chega a ser totalmente anacrônico, porque sobretudos como os conhecemos são algo que existe desde antes do século vinte), mas também traz para esse 1910 algo das pulp magazines que marcaram as duas décadas posteriores, e, como dito ao longo desse texto, traz para si parte do ethos dos mangás dos anos 40 e 50, encaixados nesse cenário, como se Asamiya estivesse consciente dessa área difusa que faz do dieselpunk mera parte do steampunk japonês, e a corporificasse em uma cidade nominalmente steampunk sob uma neblina que esconde três décadas de mundo.

Para ler o artigo completo, clique aqui.

25.9.10

E o João Fumaça vai para...

Hoje, dia 25 de setembro, foi o dia do sorteio do mini-João Fumaça. Previamente marcado para o proletário Alçapão, querido muquifo da Mauro Ramos, de última hora o local acabou sendo alterado para o mais chique Café Cultura, por coincidência local do primeiro encontro vitoriano de Florianópolis. Estiveram presentes para dar aquela credibilidade ao evento Fernando Pascale, o homem por trás do Superfakes; sua digníssima namorada Liliam Ciarnoski; Fabrício Rodrigues, na qualidade de auditor, e o indigitado blogueiro que vos digita. Entre cervejas, cafés, doces e salgados, tiramos o nome de um dos concorrentes que deixaram seu comentário no post que anunciou a promoção. A identidade do sortudo fica para o final deste manking of, antes as fotos do passo a passo.

 João Fumaça curte uma Eisenbahn dunkel, aqui de Santa Catarina, a cerveja steamer até no rótulo...


...mas não dispensa uma Devassa carioca.

Aproveitamos para fazer um reclame ao lado da capa da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário.


Fernando Pascale, o sr. Superfakes - Criador e criatura.


Liliam Ciarnoski, sra. Superfakes e a responsável por sortear o papelzinho no chapéu.


O chapéu. Ah, e abaixo dele, Fabrício Rodrigues, o auditor do sorteio.


Lá se foram os 42 papeizinhos para dentro do chapéu.


Liliam escolhe o vencedor sob o olhar quase atento do auditor que estava distraído no momento.


Close no nome e confirmação com duplo positivo: o sortudo foi Ivo Heinz, de São Paulo.

 

O mini-João Fumaça com o papelzinho do seu novo dono.



E ele embalado, pronto para seguir viagem assim que eu pegar o endereço do vencedor. É isso, pessoal! Parabéns ao meu caríssimo Tio Ivo, obrigadão às demais 41 pessoas que participaram da promoção. E um especial muito obrigado ao Pascale, à Liliam e ao Fabrício pelo sorteio festivo!

P.S. Vou sentir saudades do João Fumaça, espero que ele seja bem cuidado lá em Sampa.

24.9.10

More steampunk made in Brazil

Edgar Refinetti é quem me chamou a atenção: mais uma vez a ficção steampunk feita no Brasil cruza as fronteiras do país. Jacques Barcia, autor da noveleta "Uma vida possível atrás das barricadas", da coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, vai ter uma tradução de seu texto publicado no segundo volume de uma consagrada coletânea internacional. "A Life Made Possible Behind The Barricades" sairá no meio do próximo ano em The Apex Book of World SF organizada por Lavie Tidhar. Dividindo as páginas com ele e com autores de todas as partes do mundo, outro brasileiro sempre citado por aqui, Fábio Fernandes, com o texto "Nothing Happened in 1999". Parabenizando a dupla pela conquista, agradecendo ao Garapa pela dica, reproduzo abaixo a lista completa dos autores selecionados para a coletânea:



Rochita Loenen-Ruiz (Philippines)–Alternate Girl’s Expatriate Life
Ivor W. Hartmann (Zimbabwe)–Mr. Goop
Daliso Chaponda (Malawi)–Trees of Bone
Daniel Salvo (Peru)–The First Peruvian in Space
Gustavo Bondoni (Argentina)–Eyes in the Vastness of Forever
Chen Qiufan (China)–The Tomb
Joyce Chng (Singapore)–The Sound of Breaking Glass
Csilla Kleinheincz (Hungary)–A Single Year
Andrew Drilon (Philippines)–The Secret Origin of Spin-man
Anabel Enriquez Piñeiro (Cuba)–Borrowed Time (trans. Daniel W. Koon)
Lauren Beukes (South Africa)–Branded
Raúl Flores Iriarte (Cuba)–December 8
Will Elliott (Australia)–Hungry Man
Shweta Narayan (India)–Nira and I
Fábio Fernandes (Brazil)–Nothing Happened in 1999
Tade Thompson (Nigeria)–Shadow
Hannu Rajaniemi (Finland)–Shibuya no Love
Silvia Moreno-Garcia (Mexico)–Maquech
Sergey Gerasimov (Ukraine)–The Glory of the World
Tim Jones (New Zealand)–The New Neighbours
Nnedi Okorafor (Nigeria/US)–From the Lost Diary of TreeFrog7
Gail Har’even (Israel)–The Slows
Ekaterina Sedia (Russia)–Zombie Lenin
Samit Basu (India)–Electric Sonalika
Andrzej Sapkowski (Poland)–The Malady (trans. Wiesiek Powaga)
Jacques Barcia (Brazil)–A Life Made Possible Behind The Barricades

23.9.10

O dilema de Bentinho

Nos últimos anos tem aumentado as tentativas no Brasil de se aproximar a literatura de gênero fantástico, mais notadamente a ficcão científica, daquela que pode ser chamada de mainstream, feita com embasamentos realistas, geralmente com mais atenção à forma que ao enredo e, por este somatório, com maior prestígio acadêmico. As estratégias variam desde convidar autores identificados com este segundo grupo a se arriscar na criação de contos de FC, como sempre ocorre na série semestral Portal, até a chamar escritores daquela primeira turma a colaborar em coletâneas preponderantemente mainstream, como Todas as guerras (ambos os exemplos são organizados pelo escritor Nelson de Oliveira, maior incentivador deste movimento de aproximação literária). Esta resenha é sobre uma iniciativa diferente, que age como um vírus se incubando no hospedeiro e modificando sua estrutura genética a ponto de causar uma mutação. Se for para transformar um clássico da literatura nacional em uma obra de FC, quer vítima melhor que partir logo para o romance símbolo do Realismo (com r maiúsculo) em nosso país?

Indo por partes. Falei em transformar um clássico em literatura fantástica? Este é justamente o nome da coleção do selo Lua de Papel, da editora Leya do Brasil, sobre a qual já postei por aqui: Clássicos Fantásticos. Falei em romance símbolo do Realismo? Sim, me refiro a Dom Casmurro, publicado em 1900, por ninguém menos que Machado de Assis (1839-1908). E o livro a tentar atar essas duas pontas literárias é Dom Casmurro e os discos voadores, do escritor, roteirista e beta reader de "Cidade Phantástica" Lúcio Manfredi. O título foi lançado em um pacotão com outros três da mesma coleção, dois deles se apropriando de obras cujas recriações, à primeira vista, me interessariam até mais, justamente pelo uso que também fiz do material original naquela noveleta que dá nome a este blog. Porém, ao dar uma olhada no quarteto à disposição nas livrarias, não  hesitei em mudar de ideia: o texto do paulista do século XXI que se infiltrou na obra do carioca do século XIX me interessou desde o primeiro capítulo até o final da leitura, fazendo com que eu não me arrependesse da escolha feita na boca do caixa.


Aliás, pelo primeiro capítulo, disponível aqui, o leitor pode ter uma ideia do que esperar das 264 páginas deste lançamento. Quem quiser fazer as devidas comparações vai perceber que Manfredi iniciou sua recriação pelo terceiro capítulo do original, no ano de 1857, quando o narrador relembrava um tempo em que ainda não fazia por merecer nem o apelido zombeteiro que ganhou na maioridade, mem mesmo o seu nome completo, Bento Santiago. Ele era apenas o Bentinho que aos 14 anos se dava conta, ao entreouvir uma conversa, de que estava apaixonado por sua vizinha, algo que consistia um problema e tanto para alguém como ele, prometido para a vida sacerdotal antes mesmo do nascimento. Tudo isso consta do original e também na adaptação, assim como outras passagens do romance de Machado de Assis, a diferença fundamental está no toque fantástico resumido por aquele "e os discos voadores" do novo título. Pelo uso de trechos da obra primária, cerca de 30% do total, segundo cálculo do próprio autor, pode-se considerar que ele, em seu primeiro romance impresso em papel, fez um mashup, como vem sendo anunciado em matérias e em colunas literárias. Mas o trabalho lembra mesmo um outro tipo de narrativa, até mesmo pelo que consta de fantástico em seus acréscimos.

Em 1973, o americano Philip José Farmer (1918-2009) teve a ideia de reescrever Volta ao mundo em oitenta dias em um novo contexto: ele envolveu os personagens daquele livro, além de outras criações de Jules Verne (1828-1905), como o capitão Nemo,  em uma disputa entre duas raças alienígenas. O resultado foi The other log of Phileas Fogg, traduzido como O outro diário de Phileas Fogg no Brasil e O diário de bordo Phileas Fogg em Portugal. Aquela é uma das mais conhecidas obras da chamada ficção alternativa, um dos subgêneros da FC, mas com a atual onda de mashups, iniciada com Orgulho e preconceito com zumbis, desconfio que se alguma editora resolver republicá-la por aqui, a tendência é ser rebatizada para algo como Volta ao mundo em oitenta dias com alienígenas. O trabalho de Lúcio Manfredi lembra mais a liberdade assumida pela FA de Farmer que as paródias do autêntico mashup, porém o desafio que ele enfrentou ao reescrever a obra de um esteta do porte de Machado de Assis foi ainda maior. Para título de comparação, me lembrou o que o inglês Harry Turtledove fez com o maior dramaturgo de seu país na história alternativa Ruled Britannia - esta reabatizada como O dilema de Shakespeare apenas em Portugal, já que nunca recebeu edição nacional.

O paulista escreveu sobre esse desafio em seu blog:

Antes de mais nada, eu optei por me manter o mais fiel possível ao enredo do Dom Casmurro original. O que me interessava era determinar de que maneira a nova premissa modificaria o significado dos eventos do livro. Assim, Dom Casmurro e os Discos Voadores continua sendo a história de Bentinho, um garoto destinado pela mãe a ser padre, mas que se apaixona pela vizinha Capitu. A diferença é que isso agora envolve discos voadores e alienígenas.


A segunda decisão foi a de tentar reproduzir a voz narrativa de Bentinho. Tudo o que acontece no romance de Machado é filtrado pela perspectiva do narrador, a tal ponto que é impossível saber o que é fato e o que é fruto de sua imaginação paranóica. Tanto que a grande questão que Dom Casmurro levanta até hoje é se Capitu traiu ou não Bentinho. E eu não queria perder essa ambiguidade, especialmente quando o meu Bentinho, ao contrário do de Machado, passa por situações que vão muito além da banalidade do adultério.

Assim como é impossível para um leitor de hoje ler o Dom Casmurro de 1900 sem ter conhecimento da polêmica do traiu ou não traiu que atormenta a alma de Bentinho tanto quanto o ser ou não ser fazia com a de Hamlet; mesmo os mais desavisados vão começar a leitura do Dom Casmurro e os discos voadores de 2010 já sabendo de antemão da presença dos ETs. Em ambos os casos, o atrativo é descobrir como as situações se encaixam numa prosa cheia de digressões, metalinguística, irônica, intertextual, feita em capítulos curtos por um narrador pouco confiável. Ou seja, o que há de melhor no romance Realista foi preservado no de ficção científica. E quem teme perder elementos mais profundos do trabalho original, como as incursões psicológicas empregadas pelo escritor do século XIX também pode ficar tranquilo, pois um dos níveis de leitura que o autor do século XXI deixa à disposição é uma possível releitura dos aliens como representantes do id e ego em eterno combate e mediados pelo superego. Agora, se a intenção é só buscar uma boa história com ares juvenis, também é uma ótima pedida. Uma grande homenagem não só a Machado de Assis, como à ficção científica. Homenagem com direito a inúmeras citações que passam por seriados de TV até autores consagrados do gênero, com destaque, óbvio, à paixão literária de Manfredi, o americano Philip K. Dick (1928-1982).

17.9.10

Reinos unidos

O Brasil e a ficção científica muitas vezes são descritos por um chavão em comum que os associa ao porvir: um seria o país do futuro; a outra, a literatura sobre o futuro. Quem conhece um pouco sobre ambos sabe que a realidade pode ser um tanto mais complexa, tanto para o país, com sua rica história, quanto para o gênero literário, que nunca foi só um mero exercício de futurismo. Não deixa de ser curioso que um confronto entre chavão e realidade esteja acontecendo na vertente da FC nacional que mais vem alcançando evidência, aqui e lá fora: o retrofuturismo do steampunk. Se a coletânea da Tarja Editorial Steampunk – Histórias de um passado extraordinário, lançada em 2009, inovou pelo pioneirismo de dedicar todo um livro à temática, uma segunda obra vem consolidar essa posição, dessa vez pela editora Draco: Vaporpunk – Relatos steampunk publicados sob as ordens de Sua Majestade. Mais do que uma continuação, a nova coletânea também inova ao trazer súditos não apenas brasileiros: foram convocados igualmente portugueses para escrever seus relatos, em uma união de forças transatlântica.

Acho impossível falar sobre esse livro sem começar pela capa, que tive o prazer de anunciar em primeira mão neste blog. Conferir a arte ao vivo, e não mais pelo monitor do computador, dá uma nova dimensão a uma peça gráfica que, seguramente, vai marcar época. Reforçou a impressão que tive do acerto do responsável por ela, Erick Santos Cardoso, ou Ericksama, que também vem a ser proprietário da Draco, por todas as escolhas estéticas que fez ali. Usando diversos programas de modelagem 3d, ele transformou a embalagem do livro em uma autêntica traquitana steamer, com suas engrenagens, válvulas e mostradores se espalhando pela capa em si, pela contracapa, pela lombada e pelas orelhas, dando muita vontade de ver aquilo tudo brilhar e se mexer de verdade. Porém, houve muito acerto também na imagem principal da capa, que destaco abaixo.



Nela vemos uma paisagem que podemos intuir ser a do Rio de Janeiro, mesmo não destacando nada óbvio da exuberante paisagem natural de uma cidade que já foi capital de Império. Mas aquela ponte imensa, paralela ao horizonte e emoldurada por balões nos céus, navios no mar e um trem em terra, não seria uma versão retrofuturista da Rio-Niterói, obra da engenharia capaz de competir de igual para igual com morros e praias? Desta forma, o capista encontrou uma ótima tradução da intenção dos organizadores, registrada no prefácio da obra: “desejamos mostrar noveletas cujos enredos digam respeito, direta ou indiretamente, às culturas brasileira e/ou portuguesa, exibindo o impacto social do avanço tecnológico precoce nas histórias dessas culturas”. A assinatura do texto de apresentação dá uma boa mostra da qualidade que marcou também a escolha do conteúdo para além dos cuidados com a forma da coletânea: Gerson Lodi-Ribeiro, maior referência em História Alternativa do Brasil, já entrevistado por aqui; e Luís Filipe Silva, coautor com João Barreiros de Terrarium, apontado por inúmeros críticos como a grande obra de FC não só de Portugal, mas a melhor já escrita em português.

O selecionado binacional é formado por cinco brasileiros (incluindo Lodi-Ribeiro) e três lusitanos que preenchem as encorpadas 312 páginas do livro – com a alta gramatura do papel de ótima qualidade utilizado, fosco e amarelecido no ponto ideal, parecem até mais: Vaporpunk é uma dessas raras obras de FC editadas por aqui que, literalmente, para em pé sozinha. Além da qualidade do material utilizado, o fato se deu por outra intenção manifestada naquele prefácio: “Em termos de ficção curta, ao contrário do que acontece na ficção científica, na história alternativa o conto não constitui a forma narrativa por excelência. Em seu lugar, temos a noveleta, uma peça mais extensa, de modo a possibilitar tanto o desenvolvimento do enredo e da trama quanto o delineamento do cenário histórico alternativo. Por este motivo, ao convocar autores para submeter trabalhos para a Vaporpunk, deixamos claro nosso anseio de receber textos mais encorpados, em tamanho e conteúdo”.

O único relato presente no livro que não seguiu esse padrão de noveletas é o conto que justamente abre a coletânea: “A fazenda-relógio”. Curiosamente, ele é do carioca Octavio Aragão, autor de um dos raros trabalhos com o fôlego de romance a usar elementos steampunk já escritos no Brasil. Com apenas 13 páginas, a história acabou não desenvolvendo tão bem personagens com potencial para exibir mais do que foi mostrado ali, caso do Dr. Bento, político de origem proletária infiltrado na corte do Império brasileiro em fins da década de 1880. Porém, se o conto não chega a ser encorpado no tamanho ele é em conteúdo. Uma fazenda na região de Jundiaí – talvez não por coincidência, terra de Carlos Orsi, outro participante da antologia – inaugura um projeto inovador de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), àquela altura já Visconde de Mauá e com muito mais prestígio que manteve em nossa realidade naquele período de tempo. A intenção é implantar a total mecanização da propriedade, fazendo uso de mecanoides no lugar da mão-de-obra escrava. A questão é que tal iniciativa, independentemente das ambíguas intenções por trás dela, acaba por provocar uma onda de insatisfação entre os negros jogados à própria sorte. O caos gerado é ainda pior que o dos luditas do início da Revolução Industrial britânica.

A seguir, a primeira noveleta propriamente dita do livro e a primeira contribuição de um autor português: “Os oito nomes do deus sem nome”, do matemático, programador e publicitário Yves Robert. Situado na África, em 1884, o início da trama lembra o clássico do pré-steampunk The Anubis Gate, de Tim Powers. Contudo, com o desenrolar dos eventos, e um salto de 14 anos no tempo, vamos presenciando aos poucos um original e excelente cenário, sem dúvida um dos pontos altos do livro. No mundo proposto, há três impérios dividindo o poder: a Inglaterra por dominar a tecnologia movida a vapor; a França, país que desencadeou uma revolução nos estudos dos poderes mentais propostos pelo austríaco Franz Anton Mesmer (1734-1815) e... Portugal. Este último, aparentemente dotado de alguma arma secreta, ou, no mínimo, de uma sorte inacreditável, alcança tamanho sucesso em tão pouco tempo que provoca a aliança das duas outras potências contra si. O resultado é uma história ágil, de intrigas políticas, conspirações e agentes duplos, com equipamentos de espionagem de invejável criatividade. Merece um romance ou, pelo menos, mais inserções neste cenário. Torço para que Robert pense o mesmo.

Um agente duplo inglês é o narrador da próxima história: “Os primeiros astecas na Lua”, a única a fugir do foco lusobrasileiro. O autor é o mineiro Flávio Medeiros Jr., único escritor a estar presente em ambas as coletâneas dedicadas ao steampunk do Brasil. No livro da Tarja, ele publicou “Por um fio”, por certo o melhor texto do livro, com uma ambientação que ele vem chamando de Guerra Fria Vitoriana. Parte história alternativa, parte ficção alternativa, naquele mundo Inglaterra e França são as potências dominantes sendo habitadas por personagens criados por H. G. Wells (1866-1946) e Jules Verne (1828-1905). Não apenas pelos personagens, mas também por seus criadores: os dois escritores ocupam posições políticas de relevo em suas respectivas nações. Em Vaporpunk ele dá continuidade àquele cenário, esquentando bastante o conflito. Porém, mesmo quem não tenha lido o texto anterior não vai ter dificuldade em entender essa nova história, bastante independente da primeira.

Para quem leu, no entanto, é possível fazer comparações. “Por um fio” foi uma noveleta bastante focada na lógica da guerra, bem contida em termos da quantidade de personagens e do espaço geográfico utilizado. Medeiros usou muito bem os poucos recursos que se propôs a tomar de empréstimo dos pais da FC e deu um ar mais cientificamente correto a algumas das invenções imaginadas no século XIX, uma excelente proposta executada com maestria pelo escritor que tem dois romances publicados. Já em “Os primeiros astecas na Lua”, ele retoma algumas dessas premissas, explorando de maneira genial, por exemplo, as opiniões que Verne (em uma breve e impactante aparição) realmente tinha em relação à obra de Wells. O ponto é que, com um maior número de páginas à disposição – foram 17 na primeira coletânea e pouco mais de 40 agora - a complexidade aumentou, o número de personagens é bem maior, assim como a quantidade de ambientes explorados, na Inglaterra. Tudo isso é ótimo e enriquece um dos melhores cenários steamers do imaginário nacional. Mas em determinado momento, sem querer soltar spoilers, o autor faz uso de uma retrotecnologia que abala um pouco a coerência interna de ficção científica hard que ele vinha até então utilizando e que retoma mais tarde; fato que, pelo menos para mim, causou um pouco de estranheza. Por outro lado, aumentou a curiosidade de ver Flávio Medeiros continuar a explorar ainda mais esse universo em novos textos.

Fechando a primeira metade do livro, é a vez da contribuição do coorganizador Gerson Lodi-Ribeiro com sua noveleta “Consciência de Ébano”. Assim como a anterior, esta também é um desenvolvimento de histórias prévias do autor, o que particularmente considero uma excelente iniciativa. Concordo com Lodi-Ribeiro quando ele diz que a FC – ao contrário de outros gêneros da literatura fantástica como a fantasia, por exemplo, com suas enelogias de romances – costuma ser mais bem explorada em narrativas curtas, como o conto ou a noveleta. Porém, alguns dos cenários que surgem são tão bons que seria um desperdício não os ver tendo continuidade. Caso deste aqui, uma derivação de “O Vampiro de Nova Holanda”, originalmente escrito pelo carioca em 1998, publicado primeiramente em Portugal e, mais tarde, em 2006, no Brasil, na antologia de autor Outros Brasis. O ponto de divergência desta linha temporal é um belo achado: holandeses se unem aos quilombolas de Palmares para evitar sua expulsão do Nordeste brasileiro no século XVII. Isso dá origem a uma tríplice divisão do território nacional, uma parte para cada um desses aliados e o restante para os portugueses, motivo pelo qual o escritor chama este seu universo de Três Brasis.

Desde então, nestes doze anos, Lodi-Ribeiro vem explorando continuamente sua criação; já naquele livro de 2006, por exemplo, havia outra noveleta no mesmo cenário: “Assessor para Assuntos Fúnebres”. Se não me engano, “Pátria de chuteiras”, na coletânea Outras copas, outros mundos, foi a única continuação (ou para quem preferir outro termo, spin-off) que não contou com a presença de um certo protagonista fantástico: Dentes Longos, um vampiro – sem misticismos – que acaba por se tornar imprescindível aliado da potência que os antigos escravos negros criam em Palmares. Em “Consciência de Ébano”, vemos novamente esse predador imortal, mais de cem anos após seu surgimento entre os palmarinos, já no início do século XIX, envolvido em progressos tecnológicos notáveis e provocando reações adversas em um agente secreto que tem a missão de protegê-lo e de mantê-lo incógnito. Não tenho a menor dúvida de que é um excelente texto este, dos melhores do livro, porém acredito que ele deva ser mais bem aproveitado por quem já conhece o material anterior criado neste cenário. Talvez, algumas notas editoriais contextualizando essa HA façam falta a novos leitores.

Jorge Candeias, escritor e tradutor lusitano, é responsável por outro dos melhores momentos de Vaporpunk. “Unidade em chamas” conceitualmente me lembrou o citado conto “Por um fio” da coletânea da Tarja, por também apresentar uma visão crítica e intimista de um conflito bélico e pelo uso mais embasado na realidade de uma retrotecnologia alada. A diferença é que, como eu disse antes, o brasileiro Flávio Medeiros Jr. havia escrito uma ficção alternativa com toques de HA, já Candeias faz uso – e muito bem – apenas desta última vertente. No caso, nesta linha temporal alternativa, o diferencial é o sucesso havido na tentativa do padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão (1685-1724) em produzir em Portugal seu invento voador, a Passarola. Tanto sucesso que, décadas depois, em meio a uma tentativa de invasão por parte dos franeses, aquele reino já conta com um Corpo Aéreo estabelecido, formado pelos chamados passarolistas. Para servir de tripulação daqueles exóticos balões, minuciosamente descritos pelo autor, com saborosos detalhes da técnica empregada para manobrá-los, tais soldados são como jóqueis dos céus. Ou seja, eles são escolhidos não pela posse de terras ou por títulos de nobreza, mas sim pela estatura baixa e pelo pouco peso de cada um.

Acontece que com os rumos incertos da guerra, o rei de Portugal convoca para lutar pela metrópole passarolistas vindos de suas várias colônias. A cor escura da pele dos novatos que chegam das Américas e da Índia desentoca preconceitos raciais entre os lusos, provocando uma série de animosidade entre pessoas para quem a confiança mútua no campo de batalha é questão vital. Apesar de narrado em terceira pessoa, o ponto de vista da noveleta é do passarolista branco Sidónio. De uma hora para outra, ele vê antigas e incontestadas certezas serem desafiadas quando é obrigado a compartilhar seu posto entre a tripulação da nave Unidade, que dá título à história, com pessoas antes consideradas inferiores. Sem descuidar do lado tecnológico e dos demais elementos steamers, Candeias produziu literatura de primeira.

O nível da coletânea continua em alta com meu texto favorito entre o dos brasileiros, “A extinção das espécies”, do já mencionado Carlos Orsi. Se o colega carioca Octavio Aragão situou seu conto no município natal dele, este jornalista jundiaiense inicia sua noveleta na cidade daquele designer carioca. E começa na região de Botafogo, com uma narrativa em primeira pessoa feita por uma figura histórica que aos poucos o leitor vai desconfiando de quem seja, com várias pistas, como sua nacionalidade, o nome do barco em que viaja... Bem como pode desconfiar de qual é o ponto de divergência nesta ficção alternativa escondido por trás do várias vezes citado método Waldman-Ingolstadt, tecnologia a animar uma série de autômatos que surgem pela história a fora. Seguindo a viagem que o narrador faz pela América Latina, na década de 1830, a maior parte da trama ocorre mesmo nos pampas argentinos, onde ele encontra um gênio local envolvido em uma sanguinária luta com indígenas: Luís Adolfo Morel (aqui há citação a dois escritores conterrâneos dele e à principal obra de um, prefaciada pelo outro). Falar muito desta noveleta sem entregar surpresas é um desafio complicado demais, vou reforçar apenas o quanto a achei excelente e dizer que ela faz um par e tanto com “Uma breve história da Maquinidade”, de Fábio Fernandes, de Steampunk – Histórias de um passado extraordinário.

O penúltimo texto da coletânea era o único que eu já havia tido o prazer de ler antes da publicação no livro – na verdade, até já havia brindado os leitores do blog com um trecho de “Os dias da besta”. Seu autor, o carioca radicado em São Paulo Eric Novello, é a principal autoridade em termos de fantasia urbana do país, assim como Gerson Lodi-Ribeiro é quanto a história alternativa. Nada mais lógico então que sua colaboração juntasse elementos de FU com a temática steampunk. A capital de uma versão mais tecnologicamente desenvolvida do Império brasileiro – mas nada muito exagerado, inventos áreos, por exemplo, ainda são incipientes, o que abre espaço para alguns inusitados piratas dos céus – foi onde o escritor calhou de ambientar uma espécie de lobisomem vitoriano. Com farta dose de intriga internacional e muitas cenas de violência, esta noveleta faz um curioso triunvirato de temas clássicos do terror com os textos de Lodi-Ribeiro e Carlos Orsi. Um ótimo atrativo extra do livro que amplia o repertório e o imaginário steamer para além da FC.

Por fim, a noveleta que encerra o livro: “O sol é que alegra o dia...”, do escritor português João Ventura. Com a informação de que o protagonista é uma pessoa que realmente existiu, no caso o padre inventor Manuel António Gomes (1868-1933), chamado de Himalaya pelos colegas, devido à sua grande altura, à primeira vista poderia parecer se tratar de um tipo bem incomum de história altenativa. Falo daquela focada na vida de apenas um pequeno grupo de pessoas, como “Doris Bangs”, de Bruce Sterling, publicado no Brasil no segundo número da Isaac Asimov Magazine. Não é bem o caso, pois o ponto de divergência aqui, mesmo sendo pessoal, acaba influenciando muito mais gente ao dar início a uma revolução tecnológica, como seria de se esperar em um trabalho steampunk. Na vida real, aquele padre foi a atração de uma feira mundial de ciência realizada nos EUA em 1904 com o seu pirelióforo – ou Pyrheliophero na grafia da época, empregada no texto –, uma invenção pioneira na utilização da energia solar, com vários espelhos e cerca de 80 metros quadrados de área ocupada. Por falta de investimentos e de interesse, após aquela apresentação o padre nunca chegou a dar uma aplicação prática à sua máquina.

Tudo muda na linha temporal alternativa proposta por seu conterrâneo. Pois na ficção de Ventura, uma série de acontecimentos passa a dar certo para o padre Himalaya e suas invenções. O resultado é um resgate interessante e muito bem-vindo de uma figura praticamente desconhecida da história das ciências. O problema está no formato com que o texto foi escrito, que acabou por privilegiar aspectos mais burocráticos do processo – como o patenteamento das invenções e a forma de obter capital de investimento – que lances mais aventurosos, como o da corrida de automóveis comuns contra os movidos a energia solar, descrita de forma rápida e com pouco entusiasmo. É compreensível o escritor ter dado importância a fatos que realmente poderiam ter feito a diferença na história do inventor, mas não havia necessidade de se relegar a segundo plano alguma dose de entretenimento. Quando, perto do fim, ele recria um discurso em que o padre rememora os feitos que acabamos de ler em detalhes, eu me perguntei por que os editores não podaram algumas das 37 páginas da noveleta em benefício dela própria. Se o excesso de gordura tivesse sido transferido para encorpar a primeira história, a coletânea teria sido ainda mais equilibrada do que se mostrou.

Mesmo assim, preciso dizer que é exatamente isso o que Vaporpunk – Relatos steampunk publicados sob as ordens de Sua Majestade é: a mais equilibrada coletânea de ficção científica brasileira – e também portuguesa – que já li. A média dos textos é a mais alta que já vi ser alcançada em uma coleção de textos de autores tão diferentes, reunidos apenas por um tema em comum. Aliada ao cuidado gráfico exemplar – que não se resumiu ao detalhes que descrevi sobre a capa, ela se espalha por todo o projeto interno – esta obra é um marco, sem a mínima dúvida, para a cultura steamer de nossos países, bem como para a literatura fantástica e de gênero de Brasil e de Portugal. Motivo de orgulho para as majestades dos dois reinos que obtiveram relatos à altura de suas ordens.

Eu, o prefaciador

Já que o escritor José Roberto Vieira anunciou em seu blog, vou reproduzir a nota aqui e reforçar o quanto estou honrado pelo convite para escrever pela segunda vez o prefácio de uma obra de literatura fantástica.


Romeu Martins vai fazer o prefácio do Baronato de Shoah!

Depois de algumas conversas, exibições de pontos de vista, dicas e indicações o prefaciador do do livro "O Baronato de Shoah" é apresentado ao público.
É com grande satisfação e orgulho que apresentamos aos senhores/as o nosso estimado confrade Romeu Martins, um dos maiores entusiastas do gênero steampunk no Brasil.

Quer conhecer mais do trabalho dele? Confira o site: http://cidadephantastica.blogspot.com/

15.9.10

Um hacker no Cortiço

Ainda a respeito do post de ontem sobre mashups literários. Após publicar a nota, me lembrei durante a tarde de um texto no site Terra Magazine que eu havia lido anos antes, bem quando comecei a acompanhar as discussões sobre ficção científica brasileira, e que guardava alguma ressonância com o assunto. Convidado por Roberto Causo, titular daquela coluna, o pesquisador Rodolfo Londero escreveu lá o artigo "Cortiços high-tech", no início de 2007, bem antes do início de tal onda editorial, portanto. No texto ele acabou por relacionar seu tema de pesquisa de mestrado, a literatura cyberpunk nacional, com um clássico brasileiro do século XIX, O Cortiço, publicado em 1890 por Aluísio Azevedo (1857-1913).



No ano seguinte, acabei resenhando o livro Volta ao mundo da ficção científica, organizado pelo próprio Londero e por seu orientador Edgar Nolasco, por onde ele publicou sua reflexão acadêmica. Escrevi o seguinte, na crítica que pode ser lida em outro blog meu:

Rodolfo Londero, jornalista e mestre em letras pela UFMS, além de co-organizador da obra, contribui com um estudo sobre tema mais amplo em “Níveis de recepção do cyberpunk no Brasil: um estudo de casos exemplares”. Para tratar do impacto do subgênero (e movimento) criado nos EUA por William Gibson, em meados dos anos 80, o pesquisador dividiu os casos em três níveis. No primeiro, o “direto”, ele enquadra autores brasileiros que dialogam frontalmente com as obras inaugurais do cyberpunk, caso de Fábio Fernandes e de alguns contos de sua coletânea Interface com o vampiro e outras histórias, do ano 2000. No que chamou de “recepção análoga”, Londero se refere a material nacional que captou o espírito do tempo que marcou a obra de Gibson, mesmo sem seguir o cânone daquele e de outros escritores americanos. Um exemplo citado é o livro Piritas siderais, cujo autor, Guilherme Kujawski afirmou em entrevista ao pesquisador que desconhecia o próprio termo cyberpunk, apesar das semelhanças entre sua obra, de 1994, e as temáticas do movimento criado uma década antes.

O nível a que o artigo dedica mais espaço levou o nome de “indireto” e seria o de obras brasileiras que dialogam com trabalhos precursores da ficção cyber. Neste conjunto de textos que compartilham um repertório semelhante ao dos americanos – por exemplo, a influência do filme Blade Runner, do diretor Ridley Scott – estão as criações do cantor e performer Fausto Fawcett, como o livro Santa Clara Poltergeist, de 1991.

Mas o ponto que me interessa aqui está no encerramento daquele artigo de 2007:

Quando tentei apresentar algumas obras brasileiras que se aproximam da temática cyberpunk para uma comunidade do Orkut, um membro, após ler um resumo de Santa Clara Poltergeist, afirmou que escrever cyberpunk no Brasil "não é bem como pegar a obra O CORTIÇO e botar uma coisa HIGHTECH e acabou". Nada tão longe da verdade: para Fredric Jameson, autor constantemente citado nos debates sobre pós-modernidade, o cyberpunk é uma continuação do Naturalismo. Quando propôs isto, Jameson pensava na diluição das diferenças entre o espaço privado e o espaço público - algo que, por não ser abordado enfaticamente, não identificamos com facilidade nas obras brasileiras. Mas destaquemos o determinismo, discurso doutrinário do Naturalismo, e pensemos a literatura cyberpunk. O determinismo na literatura naturalista revela-se na influência do meio ambiente sobre as personagens e os elementos da obra. Um exemplo é oferecido pela personagem Pombinha, do romance O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo: uma moça virgem e recatada que se torna uma prostitua por viver num ambiente dado à promiscuidade. Já para entender o determinismo na literatura cyberpunk deve-se conceber um meio ambiente tecnológico e, portanto, um determinismo tecnológico. É a tecnologia que influencia o comportamento das personagens e os elementos da obra: as vítimas dos vírus do conto "Interface com o Vampiro"; a "falha magnética" agindo sobre Mateus em Santa Clara Poltergeist; as hipergazetas de Piritas Siderais.
Não é um belo insight e que casa muito bem com essa nova tendência do mercado editorial, brasileiro e internacional? Relembrei isso pelo Twitter e o próprio Londero me respondeu o seguinte: "O estilo do bom cyberpunk é o realismo sujo do século XIX, daí que não é difícil fazer um mashup cyberpunk d'O Cortiço". Encerro por aqui dizendo que leria com prazer um livro do tipo Um hacker no Cortiço que promovesse a fusão do cyberpunk e do naturalismo, do punk a vapor e do cibernético.



Update: Se alguém estiver a fim de fazer uma fusão das capas de O Cortiço e de Neuromancer para ilustrar o post, agradeço.

14.9.10

Clássicos do século XIX revisitados

Esta semana começou com matérias publicadas no jornal O Globo e no site da Livraria da Folha que agitaram o fandom de literatura fantástica nacional e que, mais uma vez demonstram, o quanto o século XIX está em evidência em termos literários. Já foi assunto por aqui uma das grandes tendências do mercado internacional que é o chamado mashup literário, quando comentamos a obra que inaugurou o filão Orgulho e Preconceito e Zumbis. Naquele livro, Seth Grahme-Smith misturou o clássico do início do século XIX Pride and prejudice, escrito por Jane Austen, com as criaturas desmortas. Não demorou tanto para que a moda ganhasse versões nacionais, também revisitando material daquele século, até por uma questão muito prática: tais obras estão em domínio público e podem ser recriadas à vontade por novos escritores.

E esta é a aposta da editora multinacional Leya que por seu selo Lua de Papel prepara nada menos do que quatro lançamentos para este mês de setembro. São eles, pela ordem das capas que aparecem abaixo: Senhora, a bruxa, de José de Alencar e Angélica Lopes; Dom Casmurro e os discos voadores, de Machado de Assis e Lúcio Manfredi; A escrava Isaura e o vampiro, de Bernardo Guimarães e Jovane Nunes; e O Alienista, caçador de mutantes, de Machado de Assis e Natalia Klein.



As duas matérias também destacaram outro lançamento, este já comentado por aqui, o de Memórias desmortas de Brás Cubas, pela Tarja Editorial, mesma editora de Steampunk - Histórias de um passado extraordinário. Além de demonstrar que Machado de Assis é o favorito nessas recriações, este livro, de autoria de Pedro Vieira, segue um caminho diferente por não se utilizar de trechos do texto original mesclados com elementos fantásticos. Os personagens machadianos são inseridos em uma nova obra, o que me lembra mais o trabalho de Philip José Farmer O diário de bordo de Phileas Fogg que àquela criação de Seth Grahme-Smith. Mas isso é algo a se conferir no futuro. O certo é que nunca se viu tanto interesse editorial por se redescobrir a literatura do século retrasado. O que é um belo motivo para se comemorar, creio eu.

12.9.10

Torre de Vigia 33

Sempre citado por aqui, Cândido Ruiz um dos mais ativos membros do Conselho Steampunk de São Paulo acaba de ser entrevistado pelo blog Ofício Literário. Entre as perguntas e respostas, ele acabou por citar a coletânea Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, a vindoura Steampunk Bible, de Jeff VanderMeer e este blogueiro que vos escreve. Para ler o material na íntegra, vá a este endereço, abaixo, temos um apanhado da conversa.


No Brasil, a literatura steampunk é representada por quais escritores e obras?
RESP:
Entre as obras nacionais estão a coletânea SteamPunk (Editora Tarja), a Vaporpunk (coletânea Luso-Brasileira da Editora Draco) e a obra Bilac vê estrelas. Autores nacionais como Gerson Lodi-Ribeiro, Romeu Martins, Fábio Fernandes, Antônio Luiz M. C. Costa, Alexandre Lancaster entre outros. (...)

steampunk - steampunk

O Steampunk internacional tem mais seguidores e visibilidade do que o nacional? Caso sim, a que você atribui esse fato?
RESP: Na verdade, no momento, o Steampunk nacional possui grande visibilidade, até mesmo fora do país. Jeff Vander Meer, escritor e editor americano, organizador de coletâneas de repercussão internacional sobre Steampunk e New Weird, acaba de mostrar ao público as provas de seu mais novo projeto, um autêntico e luxuoso livro de arte. E, entre as páginas do livro dele, terão o seu quinhão três autores nacionais Fábio Fernandes, Jacques Barcia e Romeu Martins que compartilharão as páginas com criadores do porte de Jess Nevins, Libby Bulloff, Bruce Sterling, Desirina Boskovich, Jake von Slatt, Rick Klaw entre muitos outros.

11.9.10

Vestir a camisa é pouco...

...tem que ser o cosplay inteiro. Por essa eu não esperava. Sabe a Dandi? A desenhista daquele projeto de HQ steampunk do Estevão Ribeiro? Então, graças a um comentário que ela deixou no post mais recente, com direito a este link, descobri que a ligação dela com a cultura steamer não é pequena, não. Olha só:



Sim, confirmei até com o Estevão. É ela. De pirata dos céus. E tem mais:



E mais. Sempre aqui.


Ok. Estou oficialmente ansioso por essa nova série de HQs a vapor.

Steamers na Veja SP

Uma repórter da edição regional paulista da Veja flagrou alguns membros do Conselho Steampunk em um evento na cidade. Era o lançamento da coletânea Vaporpunk, que, por sinal, chegou ontem aqui em casa, furou a fila e deve ser resenhada brevemente por aqui. Confira abaixo a foto e o início da matéria.



Por volta das 16 horas do último dia 4, umas figuras incomuns marcavam presença na Livraria Cultura do Bourbon Shopping. As moças ostentavam espartilho, saia longa e acessórios de aspecto envelhecido. Os rapazes, colete, relógio de bolso e óculos paramentados. Atraíam os olhares e comentários como “Eles são de alguma peça de teatro?”. Não, não eram. Tratava-se de steampunks, fãs da literatura e do visual do século XIX que prestigiavam um bate-papo sobre o tema. “Só nos vestimos assim para ir a saraus ou reuniões, mas dá para incorporar peças como o colete e o chapéu no dia a dia”, afirma o estudante Carlos Eduardo Felippe, de 22 anos, um dos líderes do movimento em São Paulo, que costuma garimpar suas roupas em brechós. “É difícil ser steampunk num país tropical.” Continua

10.9.10

Novo projeto de HQ steampunk 3

Não perca as contas. Primeiro, apresentei o projeto de Estevão Ribeiro e Dandi, de uma nova obra em quadrinhos steamer, com o esboço da personagem Nicolette Thierry, uma francesa; depois foi a vez da irlandesa Theodora McCann. Agora, vou mostrar o trabalho da ilustradora com outra protagonista, esta uma compatriota nossa. Abaixo, além do desenho de Dandi, alguns novos detalhes da série, que temporariamente atende pela misteriosa sigla D.S.X.A.G., e de seus bastidores descritos por Estevão Ribeiro.



Maria João Barcelos – 25 anos, Paulista enviada para o distrito de “D_______ S________” para aprender a ser uma dama pelos seus pais, criadores de gado em São Paulo. Sua perícia com pistolas, cavalos e laços, além do seu estilo embrutecido a deu o título de xerife da cidade.

Dandi está usando referências dos uniformes da guerra civil americana, mas também está estudando alguns uniformes brasileiros.

Maria é a única brasileira na cidade-título da história, que se passa em Londres...

Poesia e vapor

Não é sempre que eu tenho a oportunidade de acrescentar um novo marcador na lista ao lado (agora o direito, com o remodelado design do blog). Isso acontece, geralmente, quando aparece alguma manifestação cultural ligada à cultura steamer da qual eu ainda não havia falado por aqui. É o caso agora, já que um evento que vai ser realizado em Paranapiacaba, distrito de Santo André, na Grande São Paulo, vai unir steampunk e poesia. O sarau Noite dos Poetas Malditos está marcado para o dia 26 de setembro, com uma programação que presta homenagem a Rimbaud, Augusto dos Anjos, Edgar Allan Poe e vai contar com a participação do Conselho Steampunk de São Paulo. Para mais detalhes, deixo vocês com o link do site da criadora do convite abaixo, Lady Bigby, esposa do meu caro confrade Cândido Ruiz, e também responsável pelas melhorias estéticas neste blog que vocês estão lendo.

8.9.10

Relembrando o Mini-João Fumaça

Setembro começou agitado por aqui, com remodelação visual no blog e um encontro vitoriano interestadual que aconteceu neste feriadão da Independência, reunindo catarinenses e paranaenses em um picnic de confraternização em Florianópolis. Assim que eu souber de fotos e de relatos sobre o encontro do Sete de Setembro, destacarei por aqui. Mas por enquanto este post é para relembrar o sorteio que este blog está promovendo com o pessoal do Superfakes.

Como eu sou um blogueiro tagarela, a postagem original já saiu da home, então pensei neste lembrete aqui, com direito a uma nova foto da miniatura do protagonista de "Cidade Phantástica":


O sorteio será no dia 25 de setembro e para participar é só deixar um comentário naquele post e, caso tenha acesso ao twitter, postar a seguinte mensagem por lá:

Para ganhar o @superfakes que o @romeumartins está sorteando, dê RT e deixe um comentário com sua identificação aqui http://bit.ly/bPSoeM

Todo mundo que comentar, vira um papelzinho que poderá ser tirado de dentro do meu chapéu para levar o bigodudo acima. Boa sorte a todos!

6.9.10

Novo projeto de HQ steampunk 2

E para estrear a fase nova do blog com pé direito, vamos a uma imagem exclusiva! Lembram-se que comentei sobre o projeto de quadrinhos steamer de Estevão Ribeiro e Dandi no final do mês passado? Pois o roteirista acaba de me enviar o esboço de uma nova personagem que a desenhista acaba de concluir. Vejam só:


Linda, não? E quem é ela? Estevão Ribeiro explica: "O nome da personagem é Theodora McCann, tem 18 anos e é irlandesa. Junto com Nicolette Thierry, desenvolve armas - e as testa!"

Visual novo!

Sou um sujeito sortudo! Estava eu me preparando para o piquenique imperial de amanhã, em Floripa, enquanto, sem eu nem mesmo saber, estavam tramando sobre o futuro deste meu humilde edifício em uma conspiração intercontinental. Graças a dupla de programadores e estimados apreciadores do vapor Lady Bigby e Mad Hatter - ele em São Paulo, ela na Espanha - está tudo novo por aqui, com um visual ainda mais caprichado e personalizado. Lá em cima, como vocês podem perceber, mantivemos o cabeçalho criado pelo Tiburcio, novidade implantada na última reforma deste prédio. Quanto às inovações de agora... bem, eu vou descobrindo conforme seguir postando. Brigadão, Lady Bigby, brigadão, Mad Hatter! Vocês, literalmente, fizeram meu dia!

3.9.10

A musa e o porta-voz

Ela foi declarada a musa do steampunk por este blog; ele foi considerado o porta-voz para a subcultura steampunk brasileira pela Steampunk Magazine. Ambos se encontraram agora em uma entrevista publicada no site do Conselho Steampunk. O material faz parte de uma matéria que está sendo produzida para uma publicação experimental da faculdade de jornalismo da Cásper Líbero. Também acabo de ser entrevistado e assim que souber de novidades, aviso por aqui. Mas antes, fiquem com trechos da conversa entre Lidia Zuin e Bruno Accioly, lembrando que para ter acesso à íntegra, basta clicar aqui:



Por que o Steampunk está dando tão certo hoje, tanto no Brasil quanto no mundo?

O SteamPunk parecia fenecer em todo mundo, como qualquer gênero/movimento que alcança em dado momento um ápice de popularidade e cujos únicos remanescentes acabam sendo os verdadeiros entusiastas que apreciam-no para além das tendências e da moda. De dois anos para cá, o fascínio exercido pelo SteamPunk pareceu ganhar fôlego, talvez devido ao gênero estar alcançando uma maturidade e se estabelecendo como algo que veio para ficar.

Há muitos aspectos do SteamPunk que podem estar contribuindo para isso, mas cito aqui apenas cinco que considero mais importantes.

a) Fascínio – O fascínio exercido pela ficção científica em crianças, jovens e adultos é um fenômeno bastante conhecido. Isso se dá graças ao componente fantástico presente no gênero e no devir de explicação que viabiliza esta fantasia através ciência e tecnologia.

O SteamPunk revisita os primórdios da ficção científica e tenta, através de seus meios e sua proposta estilística, produzir FC, hoje, nos moldes da FC do Século XIX, enriquecendo dramaturgicamente seu teor e transportando o público para uma época que jamais existiu;

b) Semelhança – A obra legitimamente SteamPunk literária, cinematográfica ou de qualquer outra forma de expressão costuma permanecer em dois grandes subgrupos: o SteamPunk Nostálgico e o SteamPunk Melancólico. O primeiro traz uma visão otimista e entusiasmada das conquistas científico-tecnológicas e o segundo uma abordagem crítica acerca de um Século XIX onde a utilização indiscriminada de recursos naturais, a desigualdade social e a relatividade moral representavam um grande problema. Ambas as abordagens remetem diretamente ao mundo em que estamos vivendo, de grande evolução tecnológica e degradação da ética e do moral.

c) Marginalidade – O termo que aplico aqui tem relação com a porção Punk que coincidentemente se imiscuiu na etimologia da palavra e que acabou fazendo sentido por força de quem é entusiasta do gênero.

De alguma forma, o SteamPunk herdou – juntamente com estas últimas quatro letras – alguma porção da rebeldia presente no CyberPunk, este intencionalmente marginal. A marginalidade do SteamPunk está presente, creio, na ausência de um produto ao qual atrelar o gênero (como é o caso de Star Wars ou Star Trek, quando falamos do gênero space opera). O SteamPunk não tem dono e não é uma franquia, mas está presente também na produção individual de moda, acessórios e cultura através de seus entusiastas, que preferem fazer a comprar aquilo que usam – fazendo referência ao movimento político conhecido como Anarquismo, o qual acaba sendo objetivamente tão pouco conhecido pelo cidadão comum.

d) Cultura – Por ser um movimento originado em um subgênero literário, o SteamPunk já traz a reboque todo um zeitgeist, todo o espírito marginal, fascinante e familiar de uma era na qual muitos pressentem que algo está errado e que é preciso buscar no passado os erros que talvez tenhamos cometido e, de alguma forma corrigi-los ou denunciá-los.

Sob este aspecto, o SteamPunk tem o potencial de ferramenta pedagógica e mesmo o de transportar através do tempo o interesse de quem normalmente se interessa pouco por cultura e história, fazendo com que estes resgatem as raízes da história recente através de uma janela para o Século XIX e para um mundo ficcional que torna lúdica esta viagem.

e) Organizações – O Conselho SteamPunk, a SteamPunk Magazine, o ClockWorker.de e todas as manifestações culturais, seja através de grupos, revistas ou websites acabam por dar forma palpável à esta ficção e resignificar tudo o que vem sendo produzido.

1.9.10

Transformers + Ferrorama

A nota abaixo foi uma das primeiras deste blog do tempo em que ele deixou de servir apenas para divulgar a minha noveleta homônima:

Dá para imaginar Mark Twain e Jules Verne se encontrando nos EUA com versões vitorianas dos Transformers?! Sim, os dois escritores do século XIX e outros vultos históricos da época foram os convidados de uma recente minissérie daqueles robôs multimídia chamada Hearts of Steel. A aventura faz parte de uma linha de histórias que leva o nome de Transformers Evolution, um conceito semelhante ao dos Elseworlds (conhecidos como Túnel do Tempo, no Brasil) da DC Comics, no qual personagens são deslocados no espaço e no tempo.

O atrativo aqui, além dos encontros inusitados de personalidades reais e fictícias, é ter a chance de conferir os robozões se transformando em objetos diferentes dos costumeiros automóveis e jatos de guerra da cronologia oficial. No gibi em questão, como seria de se esperar, as camuflagens adotadas são de locomotivas, dirigíveis e biplanos. O excelente blog do Conselho SteamPunk de São Paulo resenhou essa história em quadrinhos e ainda trouxe um extra: a imagem não aproveitada do líder Decepticon Megatron que iria adotar o visual de um canhão gigante, ao estilo do Columbiad de Verne.

Retomo o assunto porque ontem o Blog de Brinquedo voltou a lembrar a HQ  Hearts of Steel por um motivo mais do que justo e que pode ser resumido na foto a seguir:



Esta maravilha da customização foi criada pelo estúdio Encline Design justamente baseada naquela versão vitoriana dos robôs gigantes. Apesar de não ser um item oficial, e não estar disponível para venda no comércio, a equipe aceita encomendas tanto deste Optimus Prime que vira locomotiva quanto de outros de seus companheiros Autobots ou dos vilões Decepticons. Uma excelente chance de matar saudade tantos daqueles robôs quanto dos velhos ferroramas, não? Fiquem abaixo com mais uma imagem dessa lindeza e para ver mais, clique aqui.