7.11.11

Steampunk: o presente visita o passado - A entrevista

Como prometido no post anterior, vou publicar aqui as perguntas enviadas pela jornalista Luma Pereira, no dia 6 de setembro, e as respostas que eu lhe dei para a produção da matéria do site da Saraiva.


1. Nome completo, idade, profissão/formação.

Romeu Manoel Coelho Martins, 35 anos, jornalista, especializado em divulgação científica.

2. Desde quando (que ano) você é membro do SteamPunk?

Eu me interesso por steampunk há bastante tempo, desde antes de conhecer o termo, principalmente pela leitura de quadrinhos do estilo. Isso desde o final dos anos 90. Mas podemos dizer que entrei para o movimento a partir de 2008.

3. Por que você decidiu fazer parte do movimento?

Eu frequentava muitos fóruns de ficção científica em uma antiga rede social chamada orkut, alguns de seus leitores talvez se lembrem dela. Por lá eu conheci a iniciativa de pessoas como o Bruno Accioly e o Raul Cândido de criar um Conselho Steampunk no Brasil. Frequentando essas comunidades, fui convidado, no final de 2008, para fazer parte da primeira coletânea nacional do gênero, a Steampunk - Histórias de um passado extraordinário, da Tarja Editorial. O livro saiu no meio do ano seguinte, em julho de 2009. Naquele mesmo ano, inaugurei o meu blog dedicado ao assunto, o www.cidadephantastica.com.br

4. Quais são suas obras SteamPunk preferidas?

A mais marcante é uma minissérie em quadrinhos lançada no final dos anos 90: A Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O'Neil. Perdi a conta de quantas vezes reli o material nos anos seguintes, bem como suas continuações. Em termos de literatura, tenho todas as coletâneas nacionais que já foram publicadas, desde aquela com meu conto, da Tarja Editorial, até Vaporpunk (de 2010), da Editora Draco; e os lançamentos deste ano, pela Editora Estronho: Deus Ex Machina e Steampink.

5. Como são os encontros?

Aqui em Santa Catarina, existe uma parceria muito forte entre a Loja local do Conselho Steampunk e um grupo chamado Sociedade Histórica Desterrense. São realizados encontros desde agosto de 2010, já tivemos um piquenique e temos um café colonial marcado para dia 10 de setembro, o próximo sábado. Sem falar em algumas palestras que já demos em eventos de quadrinhos e ligados à cultura japonesa. São sempre encontros divertidos, com pessoas com interesses culturais semelhantes sobre a história do Brasil e do mundo, no século XIX, principalmente. Sem falar em gostos semelhantes por literatura, filmes, quadrinhos, animações.

6. Você se caracteriza para ir a todos os lugares? (Figurino de época).

Nesses encontros, sim. Mas nada muito produzido, se comparado com amigas minhas, como Pauline Kisner e Carolina Silva, da Sociedade Histórica Desterrense, que compõem figurinos completos de acordo com vestidos realmente utilizados séculos atrás. Minhas roupas são garimpadas em brechós mesmo.

7. Conte algum momento marcante que você vivenciou nas reuniões dos
membros, ou mesmo na rua (caso você saia de casa sempre com roupas no
estilo SteamPunk).

Não, fora o período de algum encontro ou evento - como uma palestra - eu não uso roupas de época. Acho que o momento mais marcante foi justamente uma palestra sobre o assunto, agora em agosto, que dei ao lado do escritor, professor e tradutor Fábio Fernandes, durante a HQCon, o maior evento de cultura pop de Santa Catarina. Ao final, recebi uma toy art reproduzindo o personagem principal de um dos meus contos. Antes disso, no final de abril, em São Paulo, em um evento de lançamento do livro Mortal Engines, do inglês Philip Reeve, recebi uma comenda do Conselho Steampunk, das mãos de Bruno Accioly e de Raul Cândido. Foi a maior condecoração que aquele grupo já deu a algum escritor e divulgador do gênero. São dois troféus que eu guardo com muito carinho e foram os momentos mais marcantes de todos, desde que entrei para o movimento.

8. Você costuma customizar algum/alguns objeto(s) seu(s) no estilo
SteamPunk? Descreva quais e como foi a modificação, por favor.

Não, eu não sou alguém com habilidades manuais para tanto. O máximo de acessório que eu uso é um relógio de bolso que ganhei de uma ex-namorada quando participamos de nosso primeiro encontro do tipo, no final de 2009, em São Paulo. Minha participação e contribuição é mais escrevendo contos e divulgando a produção nacional em meu blog, mas admiro muito quem faça customização de objetos, roupas, joias e afins.

9. Tem no SteamPunk alguma curiosidade que você gostaria de mencionar?

Bem, eu participo de outros grupos e vejo a situação dos escritores e de pessoas interessadas em literatura de gênero, principalmente de ficção científica, no geral. E posso dizer que nenhum grupo é mais unido, mais interessado e participativo quanto os fãs do steampunk.



10. Quais são seus autores favoritos de literatura SteamPunk?
(Nacionais e internacionais).

No Brasil, o citado Fábio Fernandes, Flávio Medeiros Jr., Carlos Orsi, Gerson Lodi-Ribeiro, Octavio Aragão, Nikelen Witter, Alliah entre outros. Internacionais, não podeira deixar de citar Alan Moore, seu conterrâneo Kim Newman, Philip Reeve, os americanos Bruce Sterling e William Gibson, os portugueses Jorge Candeias e Yves Robert. É uma longa lista.

11. Quais são seus filmes favoritos no estilo SteamPunk? Por quê?

Não são muitos filmes que sejam realmente steampunk dos quais eu goste. Acho que ainda não se encontrou direito o tom no cinema, mesmo em adaptações de obras que eu gosto. O filme da Liga Extraordinária, por exemplo, é muito ruim, assim como a adaptação que M. Night Shyamalan fez do excelente desenho animado Avatar - A lenda de Aang (no cinema, o Último Mestre do Ar), ou ainda As Loucas Aventuras de James West, com Will Smith, que é baseado em um seriado dos anos 60. Gostei da versão do Guy Ritchie para Sherlock Holmes, com Robert Downey Jr., que tem uns bons toques do gênero. E gosto muito do anime Steamboy, de Katsuhiro Otomo, que foi feito originalmente como um longa-metragem para o cinema.

12. Existe algum outro costume SteamPunk, além do interesse por obras
desse estilo, dos objetos e das vestimentas?

O steampunk é uma verdadeira cultura. Existem grupos, como Abney Park, que fazem música se identificando com o gênero, há games, quadrinhos, tatuagens. Um livro lançado nos EUA este ano faz um levantamento de todas essas vertentes culturais: a Steampunk Bible, editado por Jeff VanderMeer e S.J. Chambers. Eles fizeram uma pesquisa sobre tudo o que rola no mundo a respeito, incluindo, no Brasil.

13. Por que "Frankenstein", de Mary Shelley é considerada uma das
principais obras SteamPunk?

Bem, aqui temos uma divergência. Eu sou de uma corrente que acredita no seguinte: obras escritas no século XIX, como Frankenstein ou 20 Mil Léguas Submarinas, de Jules Verne, ou A Máquina do Tempo, de H.G. Wells, não podem ser consideradas steampunk. São livros do seu tempo, pioneiros da ficção científica. Só é steampunk se for um olhar de alguém em relação ao passado. Dessa forma, Fábio Fernandes que revisitou a obra de Mary Shelley em "Breve História da Maquinidade", naquela coletânea da Tarja Editorial, escreveu algo steampunk. Mas a escritora, em seu tempo, estava fazendo literatura de seu tempo, e não algo retrofuturista, que é o que define o gênero steampunk. Esta é minha opinião sobre o assunto, outras pessoas defendem posições diferentes.

14. Qual a importância desse movimento na sociedade atual?

O steampunk é uma excelente maneira de se rever o passado nem tão remoto e repensar possibilidades. Levar em consideração como os fatos poderiam ter acontecido de maneira diferente, dando origem a um mundo totalmente diferente. É um excelente exercício de imaginação. Para quem escreve ficção científica é uma libertação daquele chavão que diz ser este gênero algo somente sobre o futuro. O steampunk prova que também pode ser sobre o passado e sobre um futuro que deixou de acontecer. Para o bem ou para o mal.

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